terça-feira, 3 de março de 2009

Quer andar de carro velho, amor?

Gente, eu juro que não sou calcinha-gasolina, mas é que me sugeriram que escrevesse sobre as traquinagens de minhas latas-velhas.
Sei que todo mundo nunca se esquece do primeiro beijo, da primeira transa, do primeiro porre e de seu primeiro carro. Vamos às apresentações! (TAMBORES)

Luz na passarela, ou melhor, na via pública que lá vem ela. Toda fusca e reluzente. Seu nome: Penélope Charmosa. Além de uma singela homenagem a essa querida personagem – lembrada por Balzaks apenas – do desenho Corrida Maluca, o nome se referia ao seu charme de quando a adquiri. Ela era toda fofa, com a lataria toda lisinha, estofamento macio e umas lanternas que eram um xuxu. Com o decorrer do tempo o nome continuou, mas devido aos ‘charmes’ e 'pitis' que ela aprontava pelas ruas.
Foi motivo de muitas alegrias, principalmente dos mecânicos, auto elétricos, postos de combustível e borracheiros.
Já passeou por lindas estradas, sítios e cachoeiras. Tinha um coração de mãe, com sintomas de lata de sardinha e odor de Rexona.
Nosso relacionamento ia de vento em popa, até sua primeira traição. Numa bela tarde de sol, resolvo levá-la para passear. Entro nela e solto o freio de mão. Não sei pramódequê eu saí do carro e ela foi sozinha, garagem abaixo, e abraçou calorosamente uma árvore da praça defronte minha casa. No momento a praça estava repleta de crianças saltitantes. Sentei no chão e chorei. Pelo menos ela não era uma assassina. Começou nossa crise, mas, tenho amor no coração e cheguei a perdoá-la.
Após os devidos e caríssimos reparos, veio outro momento devastador. Ao entrar em uma rua, um motoqueiro relapso resolve entrar no meu carro. Pena que ele se esqueceu de abrir a porta e descer da moto. Cheguei a arrastar a bichinha por alguns metros. Quando desço do carro, penso: PUTAQUEPARIU, CADÊ O MOTOQUEIRO RELAPSO?? Quando já estava quase dando piti, pois não tinha coragem de olhar embaixo do carro e me deparar com o pior, resolvo perguntar a um cidadão que estava a observar a cena. Perguntei à pessoa certa. Ele era o motoqueiro. Por sorte, pulara antes da batida.
Se não fosse por dois amigos brutamontes aparecerem e uma ‘leve’ pressão psicológica, o safadenho não teria pago o conserto. O cara implorou pra não chamar a polícia. Eu aceitei depois de um tempo, já que ele não sabia que minha documentação estava toda atrasada.
Enfim, Penélope retorna à UTI/Pitangui. Após receber alta, eu resolvo comemorar em um estabelecimento para adultos. Tudo lindo e maravilhoso e ela resolve que não tem bateria, antes de entrar na garagem. Mas isso não quebrou o clima, lógico. Após a festa, a questão foi resolver quem teria a responsa de fazer Penélope pegar no tranco, uma vez que o espaço para empurrar era mínimo. É claro que eu que tive que assumir, né. E ela funcionou!!! Imaginem minha cara perante o auto elétrico, caso não funcionasse?
Isso abalou muito a nossa relação. Uma relação sem confiança não rola.
E eu tinha razão. Após esses, seguiram-se muitos outros episódios. Tiraram muito sarrinho e dinheiro de mim. Até que um dia ela se foi. Por um preço irrisório de pouco mais de 20% do que havia pago por ela. Nunca mais nos vimos e voltei ao meu velho e fiel coturno.
Até que certo dia, numa manhã de sol, eu conheço Zoraide. Mas os capítulos dessa novela ficará para outro post.

Pessoa, pare de ser romântico e emotivo. Desmanche o beicinho, enxugue essas lágrimas, levante e ande!

Nenhum comentário: