segunda-feira, 9 de março de 2009

Quer andar de carro velho, amor? (2)

No capítulo anterior, falamos das traquinagens de minha primeira lata velha, Penélope Charmosa, e sobre a promessa de nunca mais adquirir outra bucha dessas. Mas a vida continuou depois disso...
Após vendê-la por um preço de banana amassada, tive a inconveniente ideia de quebrar os dois pés. Sim, os dois, porque se tivesse quatro, quebraria os quatro! Tive que abandonar meu companheiro tênis - cujo apelido carinhoso é Êxtase, por me dar mó gás - e me contentar com o calorento gesso. E ao me reconciliar com Êxtase não pude retomar minhas caminhadas diárias até me recuperar totalmente.
Foi então que tive a infeliz idéia de passar meus óculos pelos classificados e ter o grande achado: uma parati filézona e por um preço que não complicaria muitos anos da minha vida. Lá vai balzack de novo enfiar o pé na jaca!
Fiz um empréstimo bancário e fui buscá-la, toda feliz e não saltitante. Seu nome: Zoraide, em homenagem a alguma personagem de novela com esse nome. No começo foi difícil dirigi-la, não tinha suas manhas, então, só arrisquei-me a sair para passear no domingo com a família em seu novo carango. Que alegria! O vento batia em nossos cabelos e acariciava nossos sorrisos. Já fazíamos planos pra muitos acampamentos e passeios. Já me via levando altas multas devido à lei seca. Nem tinha beudômetro aqui na city ainda e meus amigos juravam que eu iria estréia-los quando chegassem e não correria o risco de pegar baba de ninguém.
Na manhã seguinte, com uma ligeira ressaca, vejo aquela manhã linda no pântano: são 7:45h. Que bom, não me atrasarei, pois agora tenho quem me leve. Entro posuda, introduzo a chave, giro e nada. Ah! - me lembro - tenho que injetar gasolina e puxar o afogador! E... nada. Tento de novo umas dez vezes e nada. Já estou atrasada, vambora de moto-táxi fula da vida. Tentei por uns 3 dias, até que chamo o antigo proprietário para ver se não sou eu a anta. Ele num vai. Chamo o mecânico que deu seu aval sobre o carro. Ele num vai. Já fico mais puta do que nunca. Levo em outro mecânico e recebo a notícia fatílica: fundiu o motor. Tento negociar e devolver o carro para o doce e simpático senhor ex-proprietário. PUTAQUEOSPARIU! Caí na saga do bom velhinho. Bom velhinho o baralho! É apenas sacana há mais tempo. Recorri à ‘justiça’. Na audiência, o ser aparece com uma cara de 'abandonado pela mãe, violentado pelo pai e apanhado dos irmãos por causa de mistura', de dar vontade de chorar na gente. E eu lá, toda dona da razão e de comprovantes a meu favor. Perdi a causa. A juíza também caiu na saga do bom velhinho e alegou que eu comprei a lata sabendo que tava fudida.
Gastei uma pequena fortuna em seu conserto e agora ela está comigo. Mantemos um relacionamento bom. Ela bebe menos que eu, embora exija outras compensações. Como passou muito tempo no mecânico, devido à demora do processo judicial, ela se afeiçoou a ele. Sempre dá um jeitinho de eu ter que levá-la para matar as saudades dele.
Zoraide gosta muito da vida no campo, pois sempre que vamos a uma chácara, sítio ou lugares muito verdes e isolados, ela resolve ficar. E a bicha é tão manhosa que só aceita sair enamorada com o mecânico. Tão romântica e carente, que fica muito feliz quando ele lhe dá um trato. Zoraide também o faz muito feliz. Tão feliz que ele sempre prospera por sua causa, embora eu tenha certeza que ele tenha outras.
Eu não interfiro nessa relação. Embora me saia caro esse romance, continuo seguindo meu caminho, migrando entre Zoraide e Êxtase. Chego tantas vezes atrsada no trampo por causa de algum piripaque dela que resolvi mentir aos chefes, pois eles não acreditam mais na versão 'Zoraide Zicada'. Então invento casos como: 'Fui abduzida por ET's tarados por zoraides' e outras balelas oriundas de minha mente fértil.
Como diria a personagem do filme Tapete Vermelho: “Ainda largo dela!”

Balzaks

Nenhum comentário: