segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Insulto

Uma das maiores pérolas legislativas criadas nessa República das Bananas no sistema penal foi o famigerado INDULTO e suas variantes. A princípio, o indulto era pra ser um beneficio concedido a presos condenados em situações e circunstâncias muito especiais, e somente pelo Presidente da República em pessoa. Mas, logicamente, o Poder Judiciário, imbuído do espírito de “bostear” tudo que orienta o seu vizinho Poder Legislativo, resolveu abrir as pernas, e hoje em dia, praticamente qualquer preso, em qualquer estabelecimento prisional do Brasil, pode e deve ser agraciado com indultos de Natal, Dia das Mães, Dia dos Pais, Páscoa, Festa da Uva de Jundiaí, Festa do Peão de Barretos, Inauguração do Coreto de Quixeramobim, e o escambau.

A concessão do indulto, de tão comum e singela, recebeu até um apelido carinhoso: a SAIDINHA.

Consiste, portanto, em abrir as portas de todos os estabelecimentos prisionais existentes no Brasil (e pode crer, tem mais cadeia no Brasil do que Casas Bahia), e cuspir para as nossas cidades uma quantidade bem razoável de bandidos (ops, sentenciados, o politicamente correto não me permite usar esse termo) para passar com suas famílias (?) os seus natais, anos-novos, páscoas e dias dos pais e das mães, para depois retornarem como cordeirinhos para as suas respectivas cadeias. Lindo, né?

De fato, seria lindo se a bandidagem fosse pra sua casa, comesse seu peru de Natal com a mamãe, o papai e os filhinhos e depois retornasse de pança cheia pra cadeia. Mas, óoooo... isso não acontece!!!!! Sim, Senhores Operadores do Direito Pátrio, por incrível que pareça, isso não acontece!

Não sei por que, mas quando um bandido que passou a vida inteira na maladragem sai na rua, ele rouba as pessoas! Ele mata, ele estupra, ele seqüestra! Que coisa, né? Impressionante... e o mais impressionante ainda... ele foge e não volta mais pra cadeia!! Vai entender esse povo...

Eu mesma, cidadã que sustento indiretamente os beneficiários da “saidinha”, já fui diretamente prejudicada por ela. Não sei se vocês sabem, mas moro em uma cidade rodeada de penitenciárias, e dia de saidinha de presos é um dia nem um pouco recomendável para que eu, que até agora não cometi nenhum crime, possa dar a MINHA saidinha.

Mais curioso ainda é saber que a função da pena, que é prender quem cometeu um crime, fica interrompida por esse benefício humanitário, sendo que muitos trabalhadores, em épocas de feriado, não têm o mesmo benefício. Tem muita gente honesta que não tem grana nem oportunidade pra passar seus feriados com sua família, porque tem que ficar trabalhando longe de casa.

Me imagino em frente ao meu chefim, pedindo com olhos de coelhinha para poder faltar meio período que seja para viajar na Páscoa. Precisaria não de olhinhos, mas das patinhas do coelhinho para me salvar de suas gargalhadas sarcásticas.

Por isso eu clamo: Chefim, desviei grana, chutei teu cachorro e joguei bituca no jardim, então... libera aí aquela saidinha!

 
Angel, com leve toque Balzaks

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