domingo, 28 de novembro de 2010

A orkutização do Orkut

Existe uma piada que rola na internet dizendo que se as redes sociais fossem alunos de uma escola, o Twitter seria o popular, o Google o nerd, o Facebook o metido e o Orkut o favelado.

De fato, o Orkut perdeu seu charme há um bom tempo.

A princípio era uma febre que parecia que jamais ia passar. Encontrar e reencontrar um monte de gente que a gente não via há muito tempo, fuçar na vida alheia, mostrar as nossas fotos pra todo mundo e receber elogios, demonstrar nossos interesses pessoais participando de comunidades, enfim, interagir, de todas as formas, com todo mundo, em tempo real.

Nunca a internet foi tão usada pelos brasileiros. O Orkut trouxe às pessoas de todas as classes sociais um interesse comum, finalmente. E o que era coisa “dazelite” passou a ser de todo mundo. Jovem, velho, pobre, casado, pedófilo, grã-fino, nerd, favelado, chegou-se a dizer que “quem tá vivo, tá no Orkut”.

Acontece que essa lua de mel foi chegando ao fim. Primeiramente, receber convites para ser amigo do carinha que você viu uma vez na vida poderia até parecer simpático, mas depois, se esse carinha começasse a escrever todo dia um “oi, tudo bom?” pra você começava a ficar chato. E o excesso de amigos que antes parecia popularidade, acabou virando coisa de gente mala que adiciona qualquer um.

A fuçança na vida alheia também foi outra faca de dois gumes: a princípio era ótimo poder saber o que o seu pretê tinha feito no final de semana passado...mas depois ficou chato quando a gente começou a perceber que a Fulaninha também sabia tudo o que você tinha feito.

A característica fundamental de todo ser humano – a fofoca – nunca foi tão amparada por uma ferramenta digital, e o ser humano pôde mostrar que é cheio de fraquezas. Namoros se romperam, amizades acabaram, casamentos balançaram, e pulguinhas foram devidamente colocadas atrás da orelha de muita gente.

Finalmente percebeu-se que a invasão da privacidade é uma coisa interessante, mas que no final, nunca dá certo. Daí boa parte desencanou e parou de usar o Orkut com tanto afinco e freqüência, sendo que outros simplesmente abandonaram o Orkut, passando a aparecer em redes sociais mais discretas e menos invasivas, tais como Twitter e Facebook.

Isso sem contar na “inclusão digital”, fenômeno que permitiu que todo mundo, TODO MUNDO fosse celebridade na rede... com recados carregados de erros crassos de português, desaforos digitados, e fotos de gente não muito agraciada pela natureza em poses sexies, tomando sol na laje. Em português claro, a pobraiada tomou conta do Orkut, um verdadeiro arrastão que incomodou muita gente que se dizia culta e cheia da grana. Afinal, dividir aquele “clubinho virtual” com os amigos do squash pode ser muito divertido, mas com a sua empregada, o porteiro e o chefe do PCC fica meio incômodo.

As pessoas moderninhas, elitistas como sempre, foram aos poucos, abandonando o que já não mais interessava, já não era novidade, e logo taxaram isso de cafona. O Orkut finalmente virou coisa de gente pobre ou gente velha.

Muitos como eu ainda têm Orkut, mas com muito menos paixão. Virou uma coisa mais como última alternativa pra falar com alguém. Fica lá, paradão, sem muita utilidade.

É aquela velha filosofia que sempre orientou o mundo capitalista ocidental: “era bom enquanto ninguém tinha”.

Angel

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