sexta-feira, 16 de julho de 2010

Com que roupa eu vou?


Nós, calcinhas sentimos na pele o que essa velha saga nos proporciona.

Sabemos, também, que temos a síndrome camaleão só para mantermos a fama de imprevisíveis.
Isso não quer dizer que não tenhamos estilo ou mesmo personalidade definida. Apenas gostamos de variar a cada situação e mudamos de humor a cada minuto, por que não de visú?

Podemos nos adaptar a um cuturno a la exército, enlouquecer os cabelos, carregar na maquiagem para uma festa rock n'roll. Fazemos malabarismos para nos equilibrar em um salto agulha de zil centímetros e nos esprememos em tubinos-pretos-básicos da vida, para as festas mais fashions.

Viramos estilistas natas para tentar ficar malemazinha em nossos uniformes horrendos.

Mas... a hora que o telefone toca de repente, com uma voz conhecida e inesperada nos chamando para alguma festa, cinema, churrasco, programa de índio, entrega de Oscar, ou mesmo, para uma festa junina, começa o desespero!!!

A contagem regressiva começa, com imagens alucinadas te gritando que sua depilação não está em dia, sua sobrancelha está uma lagarta, sua manicure não te viu essa semana, que sua gaveta está cheia de calcinhas toscas e seu guarda-roupa tem eco.

Não adianta, balzak amiga, se embrenhar em revistinhas com receitinhas mágicas para ficar linda (em dia, pelo menos), pois tudo acaba virando gambearra mesmo. Assim como não adianta matar alguma avó-tia-madrinha para matar trampo para ajeitar tudo isso, nêga. O esquema é pensar meticulosamente e improvisar. Vê o que dá para improvisar mesmo, mas de maneira simples e eficaz, embora temporário.

Eu creio que nessas horas de desespero, algumas fadinhas mágicas começam a soprar carinhosas dicas nos nossos ouvidos. Algo do tipo:

- "Você tá louca! Nada desse decote tão 'você não vale nada, mas eu gosto de você'! Vai assustar e você não faz o tipo, destoa."

- "O garota, o que significa esse rosa de florzinha e lacinhos balangando no teu balonê? Tá faltando cabaço para esse look!"

- "Tsc, tsc, tsc... Você num tá pensando naquele vestidinho pega-rapaz manjado de novo? Não? Acho bom..."

- "Menos. Menos. Bem menos perfume, óleo, pó, rímel e sombra!"

- "Solta! Desse jeito você mata o cachorro da vizinha e não vai ficar com um hálito fresco!"

- "Isso. Agora diminue as pupilas, coloque um sorrisinho 'Já chegou?' na cara e arrase, garota!"

Fui.
Balzak

terça-feira, 13 de julho de 2010

O MEDO DE EMBARANGAR


Ontem estava passando por uma daquelas lojas populares de departamento e vi na vitrine uma roupa que me interessou. Pois bem, entrei e fui experimentar. Não preciso dizer que meu corpitcho fora dos padrões Giselle não coube na famigerada camisa. Fiquei parecendo o Incrível Hulk com aquela camisa quase estourando os botões, e a cor bege-desmaiado, associada à luz reveladora dos provadores de loja feminina não valorizou nem um pouco minha pele pálida e com aparência cansada depois de um longo dia de trabalho.

Desisti da roupa, e fui pra sessão das meias. Meias são sempre úteis e sempre caem bem, até porque os pés não engordam, não têm celulite, flacidez, não ficam com olheiras depois de um dia cansativo, etc. Talvez por isso eu tenha tanta obsessão em comprar sapatos...enfim

Caminhei à fila do caixa, e, na minha frente, lá estava ela: a BARANGA! Não era dessas barangas com cara de bruxa velha que assustam a gente pela rua, era uma baranguinha. Como não tinha nada mais útil pra fazer naquela fila, fiquei observando a coitada. Era uma mulher que não parecia ter idade definida, mas que eu supus ser jovem, porque estava com um filho pequeno de colo e acompanhada do marido. O marido não era grandes coisas, mas na verdade, parecia bem mais novo que a esposa. Como eu disse, ela devia ser jovem. Além do filho pequeno estava comprando umas roupinhas de criança, devia ter outros filhos. Devia ser mais jovem que eu, ou, no máximo ter a minha idade. Mas era uma mulher judiada. Gorda, mas não dessas que sempre foram obesas mórbidas. Gordinha, daquelas que um dia foram até gostosinhas nos seus 15,16 anos. Os sucessivos partos, as preocupações com a família, as infelicidades do casamento, e o excesso de carboidratos nas refeições, foram criando uma capa protetora de gordura pras tristezas da vida.
A roupa que ela usava era pior do que feia, era sem graça. Roupa de velha. Roupa de quem nunca tem tempo ou ânimo para escolher que roupa usar. Deixava aparecer por baixo do tecido uma barriga saliente de quem não teve acesso à lipo ou às drenagens linfáticas da vida. As pernas eram cabeludas, e eu fiquei imaginando que as partes íntimas deviam ser uma mata a ser desbravada com motosserra. O cabelo era mais judiado ainda, cabelo que nunca viu uma escova ou um produto caro na vida. Um cabelo opaco, morto, sem vida. Os pés com o calcanhar rachado, as unhas com a cutícula crescida. Certamente a baranga também desconhecia os serviços de manicure e pedicure.

Pois bem, a baranga pagou sua conta, foi embora, e eu senti uma tristeza, quase que uma simpatia por ela.
Daí comecei a reparar em mim. Eu estava com uma roupa velha e surrada pra trabalhar, preta pra não ter que pensar em combinações de cores, mas que me dava um aspecto de luto. Tinha colocado sapatos sem salto pra não sentir dor nos pés. Meu cabelo estava amarrado num coque amarfanhado porque estava com a raiz oleosa, porque naquela manhã não tive tempo de lavá-lo. Não tinha passado nada de maquiagem no rosto, também por falta de tempo, e as olheiras beiravam as minhas bochechas pelo cansaço da noite mal dormida (ando com insônia, será que é a idade?), e a minha pele tinha um bege pálido de quem passa a maior parte do seu tempo dentro de um escritório. A depilação estava ok, mas não dava pra ver porque eu estava de calça comprida. Sim, os quilinhos a mais estavam todos lá (a camisa do Hulk que o diga), e por estar na TPM eu me encontrava mais inchada ainda. Daí pensei: até onde aquela mulher era menos baranga que eu? Qual o limite exato pra alguém se transformar de uma moça jovem e bonita a uma simples baranga? Quão desarrumada alguém tem que estar para que os outros cheguem à conclusão que embarangou?

De fato, não sei. Só sei que saí de lá, troquei de roupa, coloquei meu tênis e fui fazer caminhada. Cheguei em casa e ignorei as porcarias. Comi peito de peru com pão integral e uma fatia de escarola. Fui dormir com fome, mas lembrei da baranga e a fome cedeu. Acordei mais cedo hoje, tomei um banho com todos os óleos e sabonetes esfoliantes que eu tinha no banheiro. Não dispensei o rímel, o batom e o blush, e disfarcei as olheiras e as espinhas com um corretivo discreto. Esqueci a preguiça e coloquei um salto alto. Caprichei um pouco mais na roupa, aliás, já separei a roupa que eu ia usar na noite anterior. Fiz uma escova no cabelo. Baranga? Eu? Jamais!

Angel



Este texto não teve nenhuma interferência de Balzaks, uma vez que ela está no banheiro passando massa corrida e todos os makes possíveis, apertando a alça do sutiã e fazendo uma listinha de compras de sacolão.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Revistas Femininas

Mesmo que você seja um cueca e não seja afeto às tais revistas femininas, com certeza já se deparou com alguma capa delas em alguma fila de supermercado.

Se você é uma calcinha e faz coleção, assinatura ou compra de vez em quando alguma destas edições, lamento informar: você está sendo enganada!

Primeiro, há que se fazer uma descrição, em linhas gerais, do conteúdo dessas tais revistas: todas, meu bem, TODAS se baseiam em uma tríade: MODA-BELEZA-SEXO.

Inevitavelmente e há muitos e muitos anos, nossas avós, nossas mães, nossas tias, nossas filhas, todo mundo vem sendo enganada por essas publicações maldosas que tentam vender em algumas páginas uma realidade da qual você jamais vai pertencer! JAMAIS!

A começar pela capa: sempre uma modelo linda ou a celebridade da vez, não menos linda, sorrindo ou fazendo carão, numa foto estonteante e devidamente photoshopada que diz que você, pobre leitora, jamais vai ser assim. As manchetes, por sua vez, são tão ou mais mentirosas do que a foto: “EMAGREÇA 5 KG EM UM MÊS COM A DIETA DO CHÁ COR-DE-ROSA”, “COMO ENLOUQUECER SEU HOMEM NA CAMA EM 246 DICAS”, “HORÓSCOPO INCA DO AMOR”, “A MAQUIAGEM QUE EMAGRECE”, e outras tantas bobagens e mentiras pra enganar otária.

O recheio, além de uma profusão imensa de propagandas de produtos que não são pro seu bico, mente descaradamente também. As moças que aparecem nas edições são altas, magras e com cara de que nunca tiveram TPM ou problemas com o pedreiro que não termina a reforma, e o pouco conteúdo que apresenta é repetitivo, pouco informativo e vazio, dando a impressão de que mulher é tudo burra mesmo pra ler aquilo e tomar como verdade, e que as jornalistas que trabalham nessas empresas fizeram faculdade pelo correio.

Quem lê revista feminina há um tempo percebe que os assuntos volta e meia são “reciclados”, ou seja, ninguém se dá ao trabalho de pesquisar alguma coisa nova pra apresentar pras incautas que pagam o caro preço da revistinha (porque custam caro sim). Pode procurar... Se em abril de 2004 o assunto da vez era “as preliminares que os homens adoram e não confessam”, em janeiro de 2010 o assunto será “o segredo das preliminares revelado por eles”... e por aí vai. E os três pilares da revista se apresentam sempre assim:

MODA – Sempre elegem uma cor como o coringa da estação. Ora o “cinza é o novo preto”... ora “o rosa é o novo bege”. Em geral as roupas são ridículas, impossíveis de usar por quem usa um manequim acima do 34, e impressionantemente caras! Tentam enfiar na sua cabecinha que você não pode viver sem um xale de lã florido ou uma bolsa de paetê rosa fluorescente, para, no mês seguinte, mudarem totalmente de idéia e entrar na seção “certo e errado”. Sim, cara leitora de revista, as roupas, bolsas e sapatos mudam de seção em pouco tempo. A anorexia das modelos e o preço do que elas usam tornam aquilo ainda mais impossível.

BELEZA – Aí você pensa: bom, vou levar em conta as dicas de beleza, emagrecer, ficar linda e me ralar de trabalhar para usar os modelitos da seção moda, ok? Ledo engano. Os cosméticos da sessão beleza custam o equivalente a um salário seu, tem creme até pra lateral da unha do dedão do pé e se você ousar comprar tudo o que recomendam certamente vai à bancarrota. As infalíveis dicas pra emagrecer são completamente fora da realidade, sendo que todas têm como carro-chefe um chá, um suco ou uma sopa, e a manchete da capa tenta te fazer acreditar que é só tomar aquilo que vai emagrecer horrores. Se prepare que seguido da dica do chazinho, vem uma dieta de fome e uma série de exercícios de atleta para a triste leitora seguir. Ou seja, se era pra fazer isso, não precisava tomar o chá amargo, certo? Ah, sem contar que mais uma vez querem levar seu dinheirinho, porque as poucas comidas descritas na dieta são as mais caras existentes e impossíveis de achar no supermercado que você, pobretona, freqüenta.

SEXO – Essa é a sessão mais engraçada da revista, sem dúvida. Dicas ridículas para agradar o ser cueca, mas que eu tenho certeza que fazem o coitado rolar de rir. Primeiramente, essas revistas tentam vender a você, dona de casa casada há 20 anos, que seu casamento de merda será devidamente salvo se você simplesmente aparecer na frente do seu marido, na hora que ele estiver assistindo o jogo na TV, nua, com um leque na mão e orelhinhas de coelha. Ou que você ligue para seu namorado no meio do expediente para contar detalhadamente todas as traquitanas eróticas que você comprou no sex shop (mesmo se ele estiver no meio de uma reunião importante). Aliás, itens de sex shop, tão aclamados pelas revistas femininas, são um caso à parte: dadinhos ou baralhos do prazer, que vocês jogam pra saber o que vão fazer e onde (se alguém alguma vez se lembrou de jogar dadinho ou baralho “naquele momento”, desculpa, mas é um prego na cama!), vibradores de plumas, paetês, com luz néon, em formato de coração, batom, concha ou shrek (se seu par curte um vibrador, lamento, esse galo bota ovo), a inclusão de comidas (literalmente) no meio da transa, e não o básico chantilly, mas sushi, banana, ostras, etc (argh, que nojo) e demais impossibilidades eróticas que transformam qualquer mãe de família acima do peso em um ser ridículo e fantasiado, e nada sexy.
 
Vire essa página, colega e não percam a próxima edição.

Angel