segunda-feira, 31 de agosto de 2009

À palo seco

Extra, extra!!!! Acabou o mistério!!! Se depois que você assistiu o Fantástico no último domingo ficou se perguntando: “Mas cadê o Belchior?”, não se preocupe mais: ele tá bem seguro, lá em casa, nesse exato momento tirando uma soneca preguiçosa da tarde numa rede improvisada que tivemos que fazer, porque afinal, ele é cearense, e adora dormir na rede, né?
Faz umas duas semanas que apareceu por lá. Confesso que na hora que bateu na minha porta, não reconheci o tiozinho bigodudo e fanhoso, cheguei a pensar: ‘Pouts, mas ainda existe vendedor de enciclopédia?”. Mas logo ele esclareceu quem era: disse somente que era “apenas um rapaz latino-americano sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior”. Não tive dúvidas, reconheci na hora! Abri as portas do meu modesto lar à ilustre visita, com uma só exigência: “trouxe o violão?”. Ao responder que sim, prontamente o convidei para entrar.
E desde esse dia, ele ta lá, sossegadão, pensativo, ora calado, ora cantando. Não me dá menor trabalho. Muito gentil, prontamente saca de seu violão e de sua voz esquisita pra aquecer os corações aflitos daqueles que lá habitam.
Até cheguei a cogitar os ‘porquês’ de sua saída súbita da vida pública. Mas ele, como todo poeta, nunca me deu explicações explícitas. Fala um pouco da sua “vida cigana”, diz que tem “25 anos de sonho e de sangue e de América do Sul”.
Frequentemente fazemos festas em casa, que depois que o famoso Belchior, ou melhor, “Tio Bel”, como ele gosta de ser chamado, se mudou pra lá, se tornaram alegres saraus. E ele, apesar de ser uma estrela, empresta suas palavras para que nós, pobre mortais, possamos derramá-las por sobre a noite. E nos deixa cantar junto com ele. E nunca ficou chateado quando eu, alimentada pelo líquido feito para molhar as palavras, me atrevo a gritar com todos os pulmões: ‘no Corcovado, quem abre os braços sou eu!” Simplesmente sorri, e se dispõe a repetir a melodia pra que eu possa cantar novamente.
E quando algum amigo embriagado saca da velha piada: ‘toca Raul!”, todos se entreolham e pedem respeito: na minha casa, agora a senha é: “toca Belchior!”.
Bom conselheiro esse tio Bel...quando eu, na minha modesta inexperiência de vida, choro meus problemas, o poeta diz, simplesmente: “ainda somos os mesmos, e vivemos como nossos pais...”

Angels
****
Tá, também fiquei preocupada com o que Angels anda tomando... (Balzak)

Nenhum comentário: